Turquia insiste na extradição de Gulen

Ancara e Washington <br>com relações tensas

Prossegue a purga na Turquia, na reacção ao golpe militar falhado de 15 de Julho. Ancara exige a Washington a extradição do clérigo Fetullah Gulen, acusado de ser o mentor da intentona.

A purga após o golpe falhado atinge já 60 mil pessoas

O ministro turco dos Negócios Estrangeiros afirmou que as relações entre a Turquia e os Estados Unidos podem ser afectadas se Washington não extraditar Fetullah Gulen, um imã que Ancara considera ser o mandante da recente tentativa de golpe militar. A Turquia vai intensificar os esforços para obter o regresso do clérigo muçulmano, revelou Mevlut Cavusoglu, na segunda-feira, 25, em entrevista ao operador privado Haberturk TV.

O governo turco tem repetido que o golpe falhado, que causou 246 mortos e mais de 2 100 feridos, foi organizado por seguidores de Gulen, de 74 anos. Este, que vive nos Estados Unidos desde 1999, protegido pelas autoridades, desmente qualquer envolvimento na conspiração. E acusa o presidente Recep Tayyip Erdogan, de quem no passado foi aliado, de ter provocado o golpe como pretexto para se desfazer de adversários e concretizar um plano antigo de instalar na Turquia um regime presidencialista.

O certo é que, desde que a rebelião militar foi derrotada, há menos de 15 dias, as autoridades turcas detiveram, suspenderam, demitiram ou colocaram sob investigação cerca de 60 mil pessoas – militares, incluindo altas patentes, polícias, juízes e magistrados, professores, estudantes, funcionários públicos. No início desta semana, foi anunciado também o afastamento de um número não especificado de embaixadores e a prisão de pelo menos 42 jornalistas.

EUA sabiam

No domingo, 24, o ministro da Justiça, Bekir Bozdag, garantiu que os Estados Unidos sabem que a tentativa de golpe foi feita por Gulen. «Estou certo de que o presidente Obama, os serviços de informações norte-americanos e o secretário de Estado sabem que o golpe foi feito por Gulen, e que não há qualquer dúvida sobre isto», assegurou Bosdag ao Kanal 7 da televisão turca. Avisou que as relações entre os dois países, velhos aliados e membros da NATO, seriam afectadas se Gulen continuasse a viver na Pensilvânia. «O governo norte-americano não tem qualquer justificação para proteger e manter Gulen nos EUA», considerou, revelando que ele e o ministro turco do Interior, Efkan Ala, viajarão para os Estados Unidos para discutir o processo de extradição.

No quadro da purga em curso, o regime turco instaurou o estado de emergência, suspendeu a adesão à Convenção Europeia dos Direitos Humanos, estendeu de quatro para 30 dias o período máximo de detenção sem culpa formada e encara a reintrodução da pena de morte. Ordenou o encerramento de 15 universidades e 1043 escolas privadas e residências de estudantes. E ilegalizou 1229 fundações e associações, além de 19 uniões sindicais e de 35 instituições médicas.

O primeiro-ministro, Binali Yildirim, avançou entretanto que, quando for implantado um regime presidencialista, a chefia das forças armadas dependerá não do ministério da Defesa mas directamente da presidência da República. Formalmente, para a mudança do parlamentarismo para o presidencialismo terá de haver uma alteração à Constituição com uma maioria de dois terços.

Yildirim disse também que, no futuro, a Guarda Presidencial será dissolvida. Por suspeita de envolvimento no golpe falhado de 15 de Julho, 283 dos 2500 membros desse corpo do exército foram presos.




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